Artigo do Padre José do Vale: O Sublime Encontro no Deserto
“Para alguém poder
receber e conservar as inspirações de Deus tem que apreciar a solidão, o
sossego, o silêncio interior e exterior, caso contrário, ou não vai recebê-las,
ou elas, recebidas, vão se enfraquecer e se dissipar”.
São Gaspar Bertorni -
Fundador dos estigmatinos
Em várias tradições
religiosas e filosóficas o deserto é o lugar de purificação, decisão, mudanças,
abissais meditações e renascimento de uma nova vida.
As condições ambientais
de despojamento, próprias do deserto, são favoráveis as profundas reflexões do
interior. Assim, a viagem da alma é levada ao imensurável. Esta é a experiência
autotranscendental.
A vida dos grandes
homens foram impactadas no encontro com Deus no deserto: Moisés (Ex 3,1-6);
Davi (1Sm 24,1; Sl 55,7); Elias (1 Rs 19, 8-14); João Batista (Lc 1, 80; 3,2);
Paulo (Gl 1, 15-21). O deserto é o lugar sublime do encontro do “eu” frágil,
finito e pecador com o Senhor Deus Santo, Eterno e Todo-Poderoso.
Essa é a verdadeira
prova que o deserto propício à revelação das nossas incompatibilidades. Todo o
nosso ser é descoberto, desnudado e nada pode ser escondido ou negado. “Aqui
estão às tentações do deserto: “Eu”, as minhas misérias e os anjos” (Ex 23,20;
Dt 8,2.3; Mt 4,11).
A exortação é muito
forte no deserto. Somos agraciados com a humilhação, perdão, reconciliação e
comunhão com Deus.
O grande místico São
João da Cruz dizia: “Que quanto mais perto de Deus chega à alma, tanto mais
consciência terá de sua imperfeição”. No deserto só há uma lugar para ficar
perto: de Deus.
SOLIDÃO E SILÊNCIO
O mundo não sabe da
solidão e do silêncio. O silêncio desconstrói o mito dialogal humano. O ser
humano não é apenas extroversão, comunicação e conexão. Ele é também silêncio,
incomunicabilidade e mistério.
Silêncio e solidão nada
têm a ver com o quadro psicopatológico. Fuga, paliativo, placebo e panacéia
estão desconectados com a realidade do nosso silêncio e recolhimento.
Isolamento por
desacertos psicológicos não pode ser tomando como caminho espiritual do
silêncio sagrado e fecundo, porque o contexto da solidão está bem acompanhada:
da consciência do “eu”, dos santos, dos anjos e da Santíssima Trindade. O
solitário e o individualista materialista estão sempre sozinhos e infelizes.
O silêncio e a solidão
aqui tratados são na dimensão mística – contemplativa. Caminhamos com ascese e
a hesychia (palavra grega para a oração do coração, significando quietude e
silêncio).
O exercício do bendito
silêncio leva o fim do estiolamento da mente e a limpeza da alma tisnada.
A alma deseja
profundamente o mistério, o silêncio para ter mais intimidade com Deus. É por
demais dialogante o silêncio da alma.
A belíssima e a grande
Santa Teresinha do Menino Jesus dizia: “Muitas vezes apenas um silêncio sem
palavras expressa a minha oração. Deus a compreende”.
Pela ascese do silêncio
e da solidão, encontramos paz, sossego, paciência, amor e o nosso Bem Maior:
Deus.
Silêncio e solidão
Leva-nos a Deus com
Oração e reflexão
Com caridade ao irmão
E ao mundo a
evangelização
Em prol das almas a
salvação
Para felicidade de
eterna comunhão.
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